A desextinção do tigre-da-tasmânia


A empresa de biotecnologia Colossal Biosciences investirá US$ 10 milhões (R$ 51,7 milhões) em um projeto científico que visa trazer o tigre-da-tasmânia de volta da extinção. O dinheiro será direcionado a cientistas da Universidade de Melbourne, que tentarão colocar em prática a engenharia genética da desextinção. 

Além disso, a arrecadação de mais US$ 5 milhões (R$ 25,84 milhões), mediante doações privadas, financiará cerca de 50 cientistas, em Melbourne e no Texas, que trabalharão no projeto.

Mas a desextinção está longe de ser unanimidade no meio científico.

Em entrevista  ao jornal The Sydney Morning Herald, o professor associado do Australian Centre for Ancient DNA, Jeremy Austin, disse que a desextinção é “conto de fadas”. “Está bem claro para pessoas como eu que a desextinção de tilacinos ou mamutes é mais sobre a atenção da mídia para cientistas e menos sobre fazer ciência séria”, disse. Ele se refere também ao fato de que a mesma empresa manifestou interesse em reviver o extinto mamute-lanoso.

O tigre-da-tasmânia, do gênero tilacino, era nativo da Austrália Continental, da Tasmânia e de Nova Guiné. Foi extinto na década de 1930. O último sobrevivente morreu em 1936. 

Reportagem da revista australiana Cosmos, publicada em julho de 2018, informou sobre a “esperança” de desextinguir o tigre tilacino mediante a clonagem. Amostras de DNA foram preservadas e a Universidade de Melbourne sequenciou o genoma da espécie em 2017.  

É necessário o código genético completo. Segundo a reportagem do The Sydney Morning Herald, isso será possível com a combinação do DNA do tilacino com o DNA de um marsupial do gênero Sminthosis, espécie viva que tem parentesco mais próximo com o tigre-da-tasmânia. 

O rato da Ilha Christmas

Uma pesquisa científica testou a viabilidade da desextinção de uma (outra) espécie. Em abril deste ano, a revista peer-review Current Biology publicou o estudo “Probing the genomic limits of de-extinction in the Christmas Island rat”. 

A pesquisa tentou recuperar plenamente o genoma do rato da Ilha Christmas (extinto no final do século 19 ou início do século 20). Os autores coletaram amostras novas e preservadas de DNA da espécie extinta. Sequenciaram e compararam o genoma com o do rato marrom, o parente mais próximo do roedor da Ilha Christmas, com o objetivo de identificar diferenças de sequência. É o chamado “mapeamento de DNA”. No entanto, surgiram obstáculos oriundos da divergência evolutiva que distingue ambas as espécies. 

O DNA coletado nas amostras estava com uma condição que dificultou o trabalho dos pesquisadores. Mesmo sendo amostras bem preservadas, o DNA da espécie extinta estava fragmentado e ínfimo, o que impossibilitou uma remontagem digital como um quebra-cabeça. Ademais, qual seria a ordem dos genes? 

O estudo citado usou o genoma do rato marrom como referência, mas nem assim foi possível obter plena fidelidade. O máximo que a pesquisa conseguiu foi recuperar 95,15% do genoma do rato da Ilha Christmas. Muitos genes não foram recuperados, inclusive genes relacionados à imunidade e olfato, funções extremamente relevantes para o animal.

Roni Pereira 

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