Intervenções estruturais combatem transmissão de COVID-19 em ambientes internos

RONI PEREIRA

Em artigo publicado no The Journal of the American Medical Association (JAMA), três autores, membros do Center of Disease Control and Prevention (CDC), constataram que há a implementação de intervenções focadas em combater a concentração de partículas infecciosas de coronavírus no ar interno, mas tais métodos são "limitados" e "desiguais". A chance de uma pessoa se infectar com COVID-19 aumenta à medida que se prolonga o tempo em que ela permanece em espaço fechado com uma pessoa infectada. 

Sabe-se que a pandemia não acabou, embora a rotina nas cidades dê a impressão de que o "velho normal" voltou. Nos últimos dias, a imprensa tem noticiado que a média móvel de casos de COVID-19 no Brasil é a maior desde março. Mortes também continuam acontecendo. 

O uso de máscaras e o distanciamento físico diminuem a probabilidade de se inalar partículas infecciosas. A vacinação é a melhor forma de prevenção. Mas existe também maneiras de combater a propagação do vírus mediante recursos que possam reconfigurar determinado ambiente, tornando-o capaz de reduzir partículas contaminantes em ar compartilhado.

O artigo do JAMA aborda esse assunto e nota as "desproporcionalidades", que estão diretamente ligadas a níveis econômicos. Os autores citam um estudo do Morbidity and Mortality Weekly Report: baseado numa amostra de 420 escolas, o estudo observa que as intervenções de baixo custo (abrir janelas, por exemplo) para deixar ambientes ventilados são "amplamente utilizados", enquanto as medidas de alto custo (segundo os autores, "modernização de aquecimento, ventilação e ar-condicionado") eram menos utilizados. Outra constatação: escolas rurais ou em "nível médio de pobreza" tendiam a usar menos ainda de tais intervenções.

"É provável que existam desproporcionalidades comparáveis em outros ambientes internos, de residências a empresas e grandes espaços públicos, como aeroportos", diz o artigo do JAMA.

A correção das desproporcionalidades implica numa sociedade adaptada e apta para conviver com o COVID-19. São intervenções estruturais com a finalidade de proteger a saúde e a vida das pessoas enquanto a pandemia prossegue. Ações individuais são eficazes, mas meios de combater a concentração de partículas infecciosas podem vir da própria estrutura dos ambientes. 

"Atualizações, melhorias ou alterações de configuração do sistema de tratamento de ar podem reduzir as concentrações de partículas virais, trazendo o ar externo para diluir potenciais contaminantes", diz o artigo.

Entretanto, como já foi dito, tratam-se de intervenções de alto custo. É preciso recursos econômicos para se construir uma sociedade de ambientes ventilados e desinfectados. A iniciativa pode provir de empresas privadas, mas o poder público e político também pode agir. O artigo do JAMA é escrito por três autores ligados ao CDC (Atlanta, Georgia), uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA. Ele informam que, por meio do American Rescue Plan, o Congresso americano "se apropriou de quase meio trilhão de dólares [...], aproximadamente metade dos quais permanece disponível para apoiar melhorias na qualidade do ar interno em pequenas empresas, ambientes industriais, edifícios comerciais, habitações de baixa rendas, centros de transporte e escolas".

Uma sociedade de ambientes ventilados e desinfectados não existirá apenas durante a pandemia de COVID-19. Será um legado, com a capacidade de prevenir doenças causadas por outros vírus e bactérias respiratórias, por partículas respiratórias nocivas, por inalação de produtos tóxicos, entre outros. E, é claro, a vacinação e ações individuais contra o vírus precisam continuar. 

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